Bacia Hidrográfica do Tejo

Quinta bacia hidrográfica, em área, dos rios da Europa Comunitária, a bacia do Tejo coloca-se na terceira posição na Península Ibérica, a seguir às do Douro e do Ebro, mas é a que maior expressão assume no território português.

É contornada por várias outras bacias hidrográficas, destacando-se a grande extensão dos limites comuns com o Douro, a norte, e com o Guadiana, a sul, resultante do paralelismo aproximado do percurso dos três grandes rios que drenam, de oriente para ocidente, a zona centro-ibérica.separados por alinhamentos de cumeadas eles próprios seguindo orientações globalmente paralelas. A fronteira com a bacia do Douro prolonga-se por mais de 500 km, mas a do Guadiana atinge os 600 km.

Cobrindo uma superfície de cerca de 80 629 km2, no seu total, dos quais 24 800 km2 (29,8%) em Portugal, a bacia do Tejo apresenta-se como um largo corredor no centro-oeste da Península, orientado grosso modo de ENE para WSW, com cerca de 700 km de comprimento e largura média da ordem dos 120 km. Essa orientação e configuração é determinada, por um lado, pela inclinação geral da Meseta, descendo suavemente para ocidente, e, por outro, pelos limites impostos pelos alinhamentos dos vigorosos relevos, a norte, da Cordilheira Central (Serras de Somosierra, Guadarrama, Gredos, Gata, Estrela, que se prolongam pelas de Lousã, Sicó, Candeeiros, Montejunto, a norte, e das elevações menos alterosas, a sul, dos Montes de Toledo, Altamira, Guadalupe, S. Pedro, S. Mamede, Ossa e, finalmente, Arrábida.

A nascente, o limite é constituído pelos Montes Universais (onde se localiza a nascente do Tejo, perto de Albarracín, a cerca de 1600 m de altitude) e Serranias de Cuenca.

Nesse corredor de 700 km de extensão instala-se o curso principal do Tejo, com cerca de 1 100 km, dos quais 230 em Portugal e 43 de fronteira. Na bacia espanhola o percurso do rio aproxima-se mais do limite sul da bacia, mas no território nacional acontece o contrário, com a bacia a espraiar-se largamente para sul, com a sub-bacia do Sorraia, sendo apertada a norte, no troço final, pelo Maciço Calcário Estremenho.

Pela sua disposição relativa e por apresentar regularmente maiores elevações em Portugal como em Espanha, a faixa montanhosa a norte contribui com os afluentes mais importantes e caudalosos, que beneficiam das maiores precipitações aí verificadas. São eles, em Espanha, entre outros, o Jarama e seus sub-afluentes (11 600 km2), o Alberche (4100 km2), o Tietar (4500 km2), o Alagón (5400 km2), enquanto na vertente esquerda se destacam o Guadiela (3500 km2) e o Almonte (3100 km2).

Em Portugal, é um afluente da vertente esquerda que apresenta a maior das sub-bacias: o Sorraia, com 7555 km2, tendo o Zêzere, na vertente norte, cerca de 5080 km2 de bacia. Mas a contribuição do escoamento médio anual do Zêzere é da ordem dos 3292 hm3/ano, enquanto a do Sorraia é de 1185 hm3/ano.

No seu perfil longitudinal, a partir da nascente a cerca de 1600 m de altitude, o rio Tejo desce rapidamente cerca de 1000 m em 130 km, aproximadamente, até à confluência com o Guadiela. Atravessa depois a planura de Castela-a-Nova com declive médio muito mais suave, para se acentuar de novo entre Talavera e Alcantara e decrescer suavemente até à foz.

O troço português é marcado por importantes quebras de declive, primeiro em Portas de Ródão, na dependência do atravessamento da crista quartzítica, e depois em Belver. A Figura 1.3, adiante incluída, mostra esses desníveis e o conjunto dos perfis de cotas médias e mínimas do troço nacional da bacia, a partir da confluência do Sever.

O rio Tejo chega a território nacional, primeiro através dum troço internacional entre o Erges e o Sever, e depois definitivamente em Portugal, ainda com a orientação predominante próxima de este-oeste, em vale bem encaixado, aberto em formações do Maciço Hespérico. Prolonga-se sensivelmente com estas características, mas algumas sinuosidades, até Arrepiado, na margem esquerda e Vila Nova de Barquinha (3 km mais a jusante, na margem direita). Tendo já, a sul, a partir de Arrepiado, o início da planície aluvial que forma a grande Bacia Terciária do Tejo, é na Barquinha que inflecte, tomando a direcção nordeste-sudoeste, que, com pequenas oscilações, vai conservar até ao corredor final de saída do estuário, onde regressa a este-oeste.

É de apontar que, apesar do grande alargamento da planície aluvial referida, o curso principal, o Tejo, a atravessa e contorna a norte, sempre mais encostado às elevações do Maciço Calcário Estremenho que a limitam nessa direcção.

Os grandes afluentes do rio Tejo na vertente direita - o Erges, o Aravil, o Pônsul, o Ocreza, o Zêzere - drenam a zona do Maciço Hespérico, acidentada, montanhosa, com pluviosidade relativamente elevada, se for excluída a área oriental da Beira Baixa. São rios com certa expressão, tanto em extensão como em área drenada, que abrem os seus álveos entre montanhas e montes, formando vales encaixados, transversais ao curso do rio principal (orientação NNE-SSW).

Na vertente esquerda, e sul, a estrutura hidrográfica da bacia é totalmente diferente. Apenas têm algum relevo, com cursos transversais ao rio Tejo, o Sever e a Ribeira de Nisa, drenando formações antigas, logo no troço de entrada do Tejo em Portugal. Mais para jusante, apenas algumas pequenas ribeiras drenam de sul para norte para o Tejo. O resto é, fundamentalmente, a bacia do Sorraia e seus afluentes próprios, com um percurso de leste para este, quase paralelo ao do Tejo a montante, até ao estuário, onde desagua. Drena, com vales relativamente abertos, a vasta planície cenozóica do Tejo e a peneplanície talhada nas formações xistentes e magmáticas intrusivas da zona de Ossa-Morena, onde a precipitação média anual é sempre inferior a 800 mm/ano, na sua maior parte entre 600 e 700 mm/ano.

A bacia do Tejo constitui a zona central do país e, em relação à sua divisão administrativa, abrange uma franja reduzida do distrito da Guarda e do de Leiria, a quase totalidade do de Castelo Branco, do de Portalegre e da parte não alentejana do de Setúbal, todo o de Santarém, cerca de um terço do de Évora, bem como a metade oriental do de Lisboa. Quanto a concelhos, 94 são atingidos pela bacia do Tejo, embora cerca de uma dezena muito marginalmente. Da Região Alentejo são tocados 20 concelhos, 30 da Região Centro e 44 da Região de Lisboa e Vale do Tejo.